FOTOGRAFIA E CONSERVAÇÃO

Fotografias já aceleraram o fim de guerras e injustiças sociais e desempenham papel fundamental em nosso maior desafio atual: a busca de um modelo de produção e consumo ecologicamente sustentável e compatível com a sobrevivência dos últimos grandes espaços naturais da Terra. A participação da Liga Internacional dos Fotógrafos de Conservação também é importante nesse contexto

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Luciano Candisani é fotógrafo, membro da ILCP e conselheiro do Planeta Sustentável
Quase nada escapa das câmeras fotográficas. Desde o registro da primeira imagem permanente da história, em 1826, essa técnica de “reprodução do real” tornou-se o principal veículo na formação da memória visual da humanidade. Mas a fotografia não se restringe `a sua componente documental. Ao contrário, os fotógrafos saem a campo ávidos por imprimir no filme suas interpretações particulares da realidade; eles usam os controles da câmera de forma criativa em favor do registro da própria resposta emocional ao tema. Essa busca muitas vezes revela composições que extrapolam a tarefa do inventário histórico e acabam, elas próprias, interferindo no rumo dos acontecimentos.

Fotografias já aceleraram o fim de guerras e injustiças sociais e veem desempenhando papel fundamental em nosso maior desafio atual: a busca de um modelo de produção e consumo ecologicamente sustentável e compatível com a sobrevivência dos últimos grandes espaços naturais da Terra.

Há vários exemplos de conquistas ambientais práticas desencadeadas por fotografias; um dos mais emblemáticos vem da África . Em 2002, o presidente El Hadj Omar Bongo, do Gabão, surpreendeu os ambientalistas ao anunciar a instalação de um enorme sistema de unidades de conservação com cerca de 26 mil Km2 em seu país. Numa ação sem precedentes no continente, treze novos parques nacionais foram criados de uma só vez para a proteção de ambientes tão diversos quanto florestas tropicais, savanas , manguezais , lagoas e pântanos.

O Gabão abriga algumas das últimas grandes áreas intocadas da África e as autoridades do país já vinham sendo alertadas, há muito tempo, sobre a urgência da proteção dos ecossistemas locais, constantemente ameaçados pela exploração da madeira, mineração, agricultura e caça. A decisão presidencial, porém, não foi desencadeada apenas por relatórios e números; ela tem uma relação mais estreita com a emoção.

Ao ver as imagens da expedição Megatransect - na qual o ecologista Mike Fay e sua equipe percorreram, a pé, mais de 3700 quilômetros no centro do continente africano, boa parte deles no Gabão - Omar Bongo, finalmente, aceitou as sugestões dos ambientalistas. Nas palavras de Fay: “O presidente já tinha ouvido tudo sobre desenvolvimento sustentável e conservação, mas só se deu conta de que seu país tem recursos naturais que vão além dos minerais e madeira, ao ver as fotografias da expedição”.

Pensando em potencializar o uso da fotografia como ferramenta em favor da conservação, a fotógrafa e ambientalista Cristina Mittermeier, fundou , em 2005, uma associação de fotógrafos de natureza com obras relevantes para a proteção da biodiversidade no planeta . A Liga Internacional dos Fotógrafos de Conservação – ILCP, da sigla em inglês - conta hoje com 72 profissionais de vários países, entre eles Michael Nichols, autor das fotografias da expedição Megatransect, decisivas na criação dos parques no Gabão.

Uma das novidades introduzidas pela ILCP são as expedições visuais de avaliação ambiental - Rave, da sigla em inglês. Nessa ação, vários fotógrafos, de diferentes especialidades cobrem simultaneamente uma mesma área de interesse prioritário para a conservação.

No ano passado, uma Rave levou quatro fotógrafos da Liga Internacional para a Ilha de Bioko, na África Ocidental. O resultado do trabalho ganhou reportagem de vinte páginas - com o título "Ilha de Noé" - na edição de agosto da revista National Geographic, publicação lançada em 1888 com o objetivo de “mostrar o mundo e tudo o que há nele” e que, em 2008, atribuiu-se uma nova missão: “inspirar as pessoas a cuidar do planeta”.

Publicado em:   http://planetasustentavel.abril.com.br/home/


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